segunda-feira, outubro 23, 2006


Normalmente costumo deixar posts com ditos e escritos de outras pessoas, até porque a maior parte das vezes é mais fácil expressar-me pelas palavras dos outros, quando eu própria não consigo encontrar correspondência ao que sinto dentro de mim, ou simplesmente porque não tenho disponibilidade para escritos de carácter pessoal e mais intimistas.
Hoje, ao contrário, apetece-me ser eu a pôr em palavras aquilo que me vai passando pelos olhos e sobretudo pelo sentir( e a maior parte das coisas sinto-as porque as vejo - sou uma criatura muito visual).
Começou ontem. Primeiro foi só um leve baque no coração, muito de leve. Depois foi uma lágrima insuspeita a romper o meu olho. No minuto seguinte a primeira transformou-se numa torrente de outras lágrimas que teimosamente insistiam em brotar, desta vez, dos meus dois olhos. E aquilo continuou de tal forma que me forcei a pôr as mãos á boca para sufocar um soluço, que de tão impetuoso se converteu num pranto. E foi aí que senti. Uma dor no peito, uma angústia que eu julguei perdida, uma ausência intranquila que tinha prometido a mim mesma esquecer, deitar para o passado. E tudo isto porquê?

É dificíl explicar porque é que ao ver um filme, que ainda por cima, supostamente, é um filme sobre esperança, sobre a vida, sobre como as coisas mais simples dão sentido á existência humana, me fui de súbito encontrar num queixume, numa aflição dos sentidos. Foi como se, de um segundo para o outro, algo dentro de mim tivesse acordado, algo que lá estava há muito tempo, quieto e silencioso, á espera de uma oportunidade de se revelar. E saiu-me assim...
Sou uma pessoa que me emociono muito facilmente, de lágrima fácil, no entanto, sou muito contida, tanto que sou incapaz de chorar numa sala de cinema. Por mais dramática que sinta uma cena, sou incapaz de deitar uma lágrima, e por muito que as minhas expressões me denunciem o que me vai na alma, a presença de outras pessoas inibe-me de tal maneira, que acabo por sair do cinema com um nó apertado na garganta. Por isso o episódio de ontem. Porque estava sozinha, porque sozinha me vi de repente, e de repente isso causou-me desconforto. E percebi que andava há muito tempo a conter-me.
E isto assusta-me. Assusta-me sobretudo porque me emociono com coisas simples, tão simples que tenho pavor que as coisas realmente importantes não me toquem, não me façam sentir nada. Claro que isto é fruto de anos a conter as emoções, e depois dá nisto. Mas o que me assusta realmente é não sentir nada. É que quando se luta por esconder certos estados de espiríto, com o passar do tempo, começas-se a acreditar que de alguma forma nos tornámos assim, apáticos, sem que nada nem ninguém nos afecte.

E o filme que me fez pensar nestas coisas todas e me fez sentir tudo isto foi "O Fabuloso Destino de Amélie". Bonito ( de conteúdo e visualmente - excelente fotografia), simples e sobretudo, doce e encantador. Já o tinha visto uma vez, mas acho que só ontem o entendi de uma forma mais pura, talvez porque estava sozinha.
Um outro filme que quase, quase me fez chorar foi "O Trige e a Neve". O Roberto Benigni, para mim, é assim uma espécie de anjo disfarçado de homem-palhaço ( sem conotações negativas), que transforma a desgraça num motivo de riso. Já o tinha feito em "A Vida é Bela" e com este novo filme, pegando de novo numa situação real, introduz-lhe uma história de pessoas normais( ou não) num cenário que lhes seria á partida estranho, para daí construir uma simples história de amor, em que a esperança e a coragem, sempre num registo muito leve e comovente, nos tranportam para lugares desconhecidos dentro de nós, lugares onde nos apetece ir mais vezes. Comigo foi assim. Dei por mim de lágrima no olho ( e não estava sozinha!!, apesar das outras três pessoas que me fizeram companhia não terem estado presentes durante todo o filme, e uma delas ter adormecido no final - justamente na melhor parte), e desejei sentir o que senti naqueles momentos mais vezes, muitas mais vezes.

No final, acabei por não chorar, mas já foi qualquer coisa...

Mais venham assim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Hey!!

Ès das minhas, meio bruta e casca grossa (aparentemente) mas depois um coração grande, uma alma sensível, dependente do sonho..

Mas és triste, parece-me a mim (que mal te conheço) que anda por aí um qualquer conflito interior que não te liberta dessa quase postura agressiva.... Não deixes miúda, a sério!!

Vai à luta, sonha, reage!!

By the way, o teu blog confirma as minhas suspeitas: ESCREVES MUITO BEM!!

Beijitos da Chefa Marta

Anónimo disse...

É tão estranho ler este post e rever-me em cada uma das tuas palavras. Tenho aquele defeito de achar que sou única quando na verdade ando dividida.

Já agora, a nossa menina não é bruta nem agressiva. "As lágrimas que não saem depositam-se no coração, com o passar do tempo irão formar uma crosta e paralisam-no, como o calcário se encrosta e paralisa as engrenagens da máquina de lavar."

Espero que o comentário da "casca grossa" não fosse a sério. Não de deixes embrutecer.

Mas quer-me parecer que já tiveste o teu despertar da mente...