sexta-feira, novembro 10, 2006


" E portanto, só aí se encontram, no acto do amor, no chamado amor, essa linha divisória entre a terra e a água, essa frágil linha do horizonte entre o mar e o céu, encontram-se aí, bailarinos, acrobatas do arame, próximos, aproximados nesta relação, a relação sexual, a única que tem sentido, se não há relação. Estamos sós. As questões permanecem vãs, e vãos são os apelos. "Onde estás diz o sonho. E tu vives ao longe... e o que sei eu ainda dos caminhos até ti? Ó face amorável, longe do limiar... Onde combates tão longe que eu não esteja? Em prol de que causa que não é a minha? Onde estás tu diz o sonho. E tu não tens resposta."
Porque estás tão longe? Porque sempre arrastado para outro lugar, para que lugar? Porquê? Acaso esta viagem tem um sentido, uma meta? Terá verdadeiramente nascido do mar e desejoso de nele navegar para sempre? Será verdadeiramente esse nómada de fonte pura, "obcecado por coisas remotas e maiores"? Que coisas, porquê, no que penso? O seu mundo é mais vasto do que o silêncio onde eu grito? É forte, nobre, altivo? De quê? Porquê? Qual a sua natureza e para onde vai o meu amor? Para o corpo de atleta, para a opressão do amo ou o ciúme do Deus? É poderoso, é fraco? Existe sem mim, sem o maior de mim, verdadeiramente? E se o mar o levar, para onde vai que eu não esteja, para que lugar que eu ignore? Será uma viagem ou uma astúcia, uma falsa partida? E se o mar o levar, será que a morte o traz? Volta? Voltará? De onde? De onde vem quando vem, quando diz "Eu venho". É assim tão longo, assim tão longe? "Um passo em mim se afasta", é o seu? Para onde vai? Onde está? Quem é?
E tu, não tens resposta."

Camille Laurens




Sem comentários: