sexta-feira, outubro 27, 2006

A quem interessar

De volta aos posts, mas desta vez só para, mais uma vez, agradecer a quem me tem deixado (poucos, mas bons) comentários neste meu blog. Desta vez, quem deixou o comentário não o assinou, mas suponho que tenha sido a mesma pessoa. De qualquer forma, e a quem me refiro, obrigada.
Infelizmente, os comentários têm sido muito escassos, aliás, quase nulos. Não que isso me espante, mas ando sempre a "chagar" a cabeça aos meus amigos para me virem deixar um miminho, mas... nada. Enfim, se calhar tenho de ser mais insistente.

À espera...

quarta-feira, outubro 25, 2006

Elogiar o Amor



O Miguel Esteves Cardoso tem um texto muito curioso acerca do amor que eu gosto particularmente. Ás tantas diz: " "Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.(...)Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental"."

Depois de ler este texto várias vezes, e pegando nas próprias palavras de MEC, saiu-me assim:
E eu digo:também eu percebo pouco do que tenho para dizer, mas também eu tenho que o dizer.Ainda há quem se apaixone de verdade. Ainda há quem queira viver um amor impossível, se é que o amor pode ser de todo impossível. Ainda há quem aceite amar sem uma razão válida. Ainda há quem se apaixone quase por acaso, quando não dava jeito nenhum... Há quem se apaixone por quem não está ao seu alcance, por quem está perto mas ao mesmo tempo tão longe...Há quem se apaixone por estranhos, no meio da multidão, em encontros fortuitos, em noites loucas, em que no meio da fantasia dos outros se inventa uma nova forma de amar, mesmo que não faça sentido algum para o resto do mundo. E fica-se com essa noite marcada, fica-se com a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desiquilíbrio, o medo, o custo, o amor, enfim, a tal doença que é como um cancro que se alimenta do coração e ao mesmo tempo nos canta no peito. Essa beleza, esse perigo...Não se percebe, pois não... nem perceberá nunca.A alma corre atrás do que não sabe, justamente porque não sabe, e não sabendo,corre, corre porque acredita...Ainda há pessoas assim, acreditam?
Aquilo que se me escapa das mãos, o meu coração guarda...

segunda-feira, outubro 23, 2006


Normalmente costumo deixar posts com ditos e escritos de outras pessoas, até porque a maior parte das vezes é mais fácil expressar-me pelas palavras dos outros, quando eu própria não consigo encontrar correspondência ao que sinto dentro de mim, ou simplesmente porque não tenho disponibilidade para escritos de carácter pessoal e mais intimistas.
Hoje, ao contrário, apetece-me ser eu a pôr em palavras aquilo que me vai passando pelos olhos e sobretudo pelo sentir( e a maior parte das coisas sinto-as porque as vejo - sou uma criatura muito visual).
Começou ontem. Primeiro foi só um leve baque no coração, muito de leve. Depois foi uma lágrima insuspeita a romper o meu olho. No minuto seguinte a primeira transformou-se numa torrente de outras lágrimas que teimosamente insistiam em brotar, desta vez, dos meus dois olhos. E aquilo continuou de tal forma que me forcei a pôr as mãos á boca para sufocar um soluço, que de tão impetuoso se converteu num pranto. E foi aí que senti. Uma dor no peito, uma angústia que eu julguei perdida, uma ausência intranquila que tinha prometido a mim mesma esquecer, deitar para o passado. E tudo isto porquê?

É dificíl explicar porque é que ao ver um filme, que ainda por cima, supostamente, é um filme sobre esperança, sobre a vida, sobre como as coisas mais simples dão sentido á existência humana, me fui de súbito encontrar num queixume, numa aflição dos sentidos. Foi como se, de um segundo para o outro, algo dentro de mim tivesse acordado, algo que lá estava há muito tempo, quieto e silencioso, á espera de uma oportunidade de se revelar. E saiu-me assim...
Sou uma pessoa que me emociono muito facilmente, de lágrima fácil, no entanto, sou muito contida, tanto que sou incapaz de chorar numa sala de cinema. Por mais dramática que sinta uma cena, sou incapaz de deitar uma lágrima, e por muito que as minhas expressões me denunciem o que me vai na alma, a presença de outras pessoas inibe-me de tal maneira, que acabo por sair do cinema com um nó apertado na garganta. Por isso o episódio de ontem. Porque estava sozinha, porque sozinha me vi de repente, e de repente isso causou-me desconforto. E percebi que andava há muito tempo a conter-me.
E isto assusta-me. Assusta-me sobretudo porque me emociono com coisas simples, tão simples que tenho pavor que as coisas realmente importantes não me toquem, não me façam sentir nada. Claro que isto é fruto de anos a conter as emoções, e depois dá nisto. Mas o que me assusta realmente é não sentir nada. É que quando se luta por esconder certos estados de espiríto, com o passar do tempo, começas-se a acreditar que de alguma forma nos tornámos assim, apáticos, sem que nada nem ninguém nos afecte.

E o filme que me fez pensar nestas coisas todas e me fez sentir tudo isto foi "O Fabuloso Destino de Amélie". Bonito ( de conteúdo e visualmente - excelente fotografia), simples e sobretudo, doce e encantador. Já o tinha visto uma vez, mas acho que só ontem o entendi de uma forma mais pura, talvez porque estava sozinha.
Um outro filme que quase, quase me fez chorar foi "O Trige e a Neve". O Roberto Benigni, para mim, é assim uma espécie de anjo disfarçado de homem-palhaço ( sem conotações negativas), que transforma a desgraça num motivo de riso. Já o tinha feito em "A Vida é Bela" e com este novo filme, pegando de novo numa situação real, introduz-lhe uma história de pessoas normais( ou não) num cenário que lhes seria á partida estranho, para daí construir uma simples história de amor, em que a esperança e a coragem, sempre num registo muito leve e comovente, nos tranportam para lugares desconhecidos dentro de nós, lugares onde nos apetece ir mais vezes. Comigo foi assim. Dei por mim de lágrima no olho ( e não estava sozinha!!, apesar das outras três pessoas que me fizeram companhia não terem estado presentes durante todo o filme, e uma delas ter adormecido no final - justamente na melhor parte), e desejei sentir o que senti naqueles momentos mais vezes, muitas mais vezes.

No final, acabei por não chorar, mas já foi qualquer coisa...

Mais venham assim.

segunda-feira, outubro 16, 2006

... só falta ...


Um belo dia resolvi mudar

E fazer tudo o que eu queria fazer

Me libertei daquela vida vulgar

Que eu levava estando junto à você

E em tudo o que eu faço

Existe um porquê

Eu sei que eu nasci

Sei que eu nasci pra saber

Pra saber o quê

E fui andando sem pensar em mudar

E sem ligar pro que me aconteceu

Um belo dia vou lhe telefonar

Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu

No ar que eu respiro

Eu sinto prazer

De ser quem eu sou

De estar onde estou

Agora só falta você

Agora só falta você

Agora só falta...


Maria Rita

segunda-feira, outubro 09, 2006

Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?
Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.
Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.
Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.

José Carlos Ary dos Santos