segunda-feira, janeiro 22, 2007

Palavras


As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias dememória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade

E é pelas palavras que me perco, e pelas palavras, as que digo, as que choro e as que ficam por dizer, entaladas na garganta, por essas e por estas que me aconchego na vida, que me faço ao caminho, que me desnudo e me bato, pela glória vã de ser isto... corpo e espírito em brasa.

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