terça-feira, novembro 28, 2006
domingo, novembro 26, 2006
sexta-feira, novembro 24, 2006
quinta-feira, novembro 23, 2006
Dualidade
quinta-feira, novembro 16, 2006
Eu, assim...
sexta-feira, novembro 10, 2006
Desejo
Desejo...
Queria enrolar-me no teu corpo de mar, provar o teu gosto de lua cheia, sentir o teu toque, quente e profundo. Queria deixar o meu sal na tua pele, embrenhar-me nos teus lençóis de veludo, abotoar os teus braços nos meus. Queria morder a tua boca ávida, sentir-te dentro de mim, sentir-nos, reconhecer-nos, apertados, embrulhados no nosso segredo, livres do mundo e de toda a gente.
Quero ser eu, plenamente, para depois poder ser o que tu quiseres que eu seja. Quero voar nas tuas asas e sentir o mundo como tu o sentes. Quero ver o sol a deitar-se enquanto tu me seguras nas mãos e me suspiras ao ouvido ditos frágeis e macios, doces... Quero ser constelação, tua estrela guia nas horas mais sombrias. Quero um banho de mar, beijado pela lua e amparado pelas tuas mãos, em gestos de ternura denunciada, intensidade de luz difusa do teu olhar.Quero parar o tempo por um breve instante, breve instante de um beijo brando, intenso de fogo e alucinação. Quero entregar-me a ti, sem medos e sem pudores, plenamente, serenamente, graciosa denúncia de desejos lascivos, devassos...
Quero-te aqui, para que ouças o meu coração, para que ouças a minha música, para que a tua pulsação se me entranhe e me desperte, para que o teu toque e o teu odor de mar e planicie me desnorteiem os sentidos e me façam cair, em ti, para sempre, neste sonhar que me transforma, nesta casa de mil desejos, nesta nobre lucidez de me ter presa ao teu nome.
Desejo...
" E portanto, só aí se encontram, no acto do amor, no chamado amor, essa linha divisória entre a terra e a água, essa frágil linha do horizonte entre o mar e o céu, encontram-se aí, bailarinos, acrobatas do arame, próximos, aproximados nesta relação, a relação sexual, a única que tem sentido, se não há relação. Estamos sós. As questões permanecem vãs, e vãos são os apelos. "Onde estás diz o sonho. E tu vives ao longe... e o que sei eu ainda dos caminhos até ti? Ó face amorável, longe do limiar... Onde combates tão longe que eu não esteja? Em prol de que causa que não é a minha? Onde estás tu diz o sonho. E tu não tens resposta."
Porque estás tão longe? Porque sempre arrastado para outro lugar, para que lugar? Porquê? Acaso esta viagem tem um sentido, uma meta? Terá verdadeiramente nascido do mar e desejoso de nele navegar para sempre? Será verdadeiramente esse nómada de fonte pura, "obcecado por coisas remotas e maiores"? Que coisas, porquê, no que penso? O seu mundo é mais vasto do que o silêncio onde eu grito? É forte, nobre, altivo? De quê? Porquê? Qual a sua natureza e para onde vai o meu amor? Para o corpo de atleta, para a opressão do amo ou o ciúme do Deus? É poderoso, é fraco? Existe sem mim, sem o maior de mim, verdadeiramente? E se o mar o levar, para onde vai que eu não esteja, para que lugar que eu ignore? Será uma viagem ou uma astúcia, uma falsa partida? E se o mar o levar, será que a morte o traz? Volta? Voltará? De onde? De onde vem quando vem, quando diz "Eu venho". É assim tão longo, assim tão longe? "Um passo em mim se afasta", é o seu? Para onde vai? Onde está? Quem é?
E tu, não tens resposta."
Camille Laurens